Resenha | Quando os Adams saíram de Férias

Demorei muito tempo para conseguir digerir essa história, tive inclusive dias e dias de reflexão quanto à essência humana, se somos naturalmente maus ou o meio que vivemos nos torna capazes de determinados atos...

No estado de natureza, segundo Hobbes, os homens podem todas as coisas e, para tanto, utilizam-se de todos os meios para atingi-las. Conforme esse autor, os homens são maus por natureza (o homem é o lobo do próprio homem), pois possuem um poder de violência ilimitado.

Em Quando os Adams Saíram de Férias, temos como protagonista a Barbara, uma jovem de 19 anos que está trabalhando de babá para a Sra e o Sr Adams, tomando conta de 2 crianças, Bobby e Cindy. Além destes, Barbara cuida dos amigos deles, Dianne, Paul e John, quando os 5 se reúnem para brincar.

Com idades de 10 à 17 anos, não dá para chamá-los exatamente de crianças, a não ser pela caçula, Cindy de 10 anos, mas mesmo ela consegue surpreender o leitor com suas atitudes.

Tudo correria muito se a babá não acordasse num belo dia amarrada e amordaçada na cama. Devo dizer que a narrativa desta história é impecável. O desespero da personagem, a inicial preocupação dela com as crianças e seu choque ao descobrir que elas lhe causaram tal situação, são de arrepiar!

Vamos acompanhando a partir daí as torturas pelas quais a personagem passa, sua desmoralização, seu abuso físico e mental, várias cenas causam náusea e é impossível não desejar a punição do grupo.

Com o passar das páginas descobrimos que esses jovens na verdade arquitetam tal plano há bastante tempo, só esperando uma oportunidade de colocar em prática. Sem contar que fica claro inclusive que eles consideram alguns abusos "normais". O relacionamento construído entre os membros do Liberdade 5, como se auto-intitulam, é muito mais intrincado do que parece a princípio, descobrimos quem é quem nesse grupo, suas personalidades, medos e anseios e o elemento em comum, a crueldade para com o outro. A construção psicológica impecável de cada personagem é a cereja do bolo nessa história macabra.

Sem dúvida alguma esse é aquele tipo de livro que te deixa completamente perturbado e reflexivo. Afinal, como podem crianças, jovens bem educados, de boa família, agirem de forma tão brutal? Ver o desespero de Barbara, suas tentativas de persuadi-los à libertarem-na, sua percepção tardia de que não há saída e que o fim não será agradável é de deixar qualquer um desolado. É impossível sair incólume dessa experiência literária!

O final é meio corrido, tive inclusive que reler para conseguir acreditar que o desfecho foi como foi mesmo. E volto a minha reflexão inicial, será que esses jovens são maus por si mesmos? Será que um ou dois tem problemas psicológicos e a convivência transformou os outros em submissos ou permissivos de tais atos? Será que há redenção para quem pratica tal nível de violência?

Se você gosta de uma leitura com narrativa nua e crua, que não poupa detalhes e vai te deixar brutalmente abalado ao final, além de te fazer questionar a natureza humana, recomendo muito Quando os Adams saíram de Férias. Mas atenção, estômagos fracos devem passar longe!

Fiz essa leitura em e-book o livro é bem antigo, e confesso que adoraria ver essa obra pulicada numa daquelas edições fodas da Darkside Books!

FICHA TÉCNICA

Título:Quando os Adams saíram de Férias

Autora: Mendal W. Johnson

Editora: Circulo do Livro

Gênero: Suspense, terror psicológico

Páginas: 277

Ano: 1984

Adicione à estante: Skoob

XoXo! 💋